sábado, 16 de julho de 2011

Dia de homem

Levanto correndo para preparar o café, as torradas mornas sem queimar e o suco de frutas sem açucar, entre o frio e o gelado. Ela não pode perder tempo, após o banho matinal toma o café entre jornais e, com a boca com gosto de hortelã, me deseja um bom dia. Poucas palavras nesta hora é uma sábia decisão.
Fico com os afazeres domésticos, mas antes tenho a academia para manter a forma e o pique, afinal, está trabalhoso ser macho nos dias de hoje. Volto para casa e, na mesma roupa do malho, arrumo a cama sem restos de amor, tiro o pó dos móveis e do meu orgulho, arrumo os livros da estante e das minhas leituras, com o rádio ligado, notícias e música, trânsito e fofocas de celebridades: eta vida besta meu Deus...
Ela avisou que vem almoçar em casa, determinou o cardápio e horário, afinal, ela é quem manda e paga as contas, "eu sou apenas, seu homem"... Arroz com seleta de legumes, mas não de latinha que tem muito sódio; lentilha com pedaços de toucinho magro - acho toucinho magro uma incoerência gastronômica - , berinjela assada com azeite e parmesão light, rúcula, tomate cereja e cenoura crus, e um filé de tilápia apenas "beijado no azeite quente".
Ela chega no horário, ela é irritantemente pontual, as vezes mais que o relógio, faz a pergunta mais crítica que um homem nos dias de hoje pode ouvir: como foi seu dia? Mas como não vou ter tempo de responder mesmo, ela descreve toda a sua manhã movimentada, a discussão com uma colega, as tiradas de sarro porque o time de fulano perdeu (essa fala não era minha?) e até o que vai fazer à tarde. Com um beijo de manjar, despede-se e avisa que não a espere para o jantar.
Estou ocupadíssimo mesmo pela tarde, horário para a depilação no peito, para o pedicuro, pés masculinos sempre serão masculinos, haja lima para deixá-los na forma, e para uma hidratação nos cabelos. A escova progressiva já me tentou, mas meu senso de ridículo, e algum resto de machismo, falou mais alto e impediu este atentado aos meus cachos naturais. Também preciso corrigir os fios brancos do cavanhaque...
A tv aberta ainda não acordou para a realidade, não existem programas vespertinos para os homens modernos, ou são para as mulheres ou futebol. Bordados, receitas e como ganhar dinheiro, mas não há dicas de pequenos consertos e aquelas coisas que homem faz quando está em casa. Precisamos criar um movimento para isso, queremos ser ouvidos, homens, héteros, maridos domésticos...
Marco meus exames de rotina, próstata, colo, ergométrico, colesterol, testosterona. Há muito do que dar conta sem, literalmente, deixar a peteca cair. Como disse há pouco, dá trabalho esta nova condição. O capitalismo resolveu empregar mulheres, e elas resolveram fazer de tudo. Ou você é milionário, ou dono do próprio negócio, funcionário público ou marido domesticado...
Eu sei que o dia do homem já passou, é que a crônica ficou esperando o autor e, como as coisas mudaram, o autor chegou atrasado. Espero que ela não fique brava, o sofá não é muito onfortável para dormir...

Edman
16/07/2011
Penso seriamente em criar uma parada para esse fim...
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança terá sido uma mera coincidência