terça-feira, 12 de junho de 2007

Dia 12 só tem 24 horas

            Há quinze dias a mídia vem bombardeando coraçõezinhos junto às ofertas de lojas de departamentos. Mas brincadeira, quem em sã consciência vai dar um rack, uma cozinha ou uma TV de plasma de presente de namoro. Mas tem tudo a ver. Viagens, luz de velas, cosméticos e closes de casais esteriotipados em clima de romance. Uma pausa neste mundo cada vez menos apaixonado.
            Mas ele conseguiu dar uma desculpa para no domingo escolher o presente. Achou estranho ela não ter ficado chateada, fazendo muitas perguntas, questões, investigando porque o danado quer ficar longe logo no domingo. De tão desconfiado ele é quem começou a perguntar, se ela ficaria bem, se ia sair com as amigas, almoçar com a irmã, pajear os sobrinhos. Respostas escorregadias de ambos combinam em se telefonar à noite.
            Em shoppings diferentes, ambos foram comprar os presentes do dia dos namorados. Último domingo antes da data importante, estacionamento, escadas, elevadores, corredores e atendentes, tudo acima do limite do tolerável. E a dúvida em o que dar. Não é fácil enamorados se presentear. Se o presente for um objeto já pode sinalizar que vem casório por aí. Se errar no gosto pessoal é porque não gosta, não sabe o que o outro quer. E se o presente indicar uma futura ausência então, azeda o mês todo.
            Nosso casal sobrevive à compra, agora é a ansiedade de esperar dois dias para saber o resultado. A prova de fogo é o telefonema à noite, onde cada um sabe o que outro foi fazer, mas não quer estragar a surpresa. É uma verdadeira batalha segurar. É melhor não se verem até o dia 12. Segunda-feira, dia onze, é um dia de poucos encontros mesmo. Vai passar rápido.
            Chegou o dia e antes mesmo do despertador o telefone toca: Bom dia meu amor, feliz dia dos namorados, eu te amo, você é minha vida, não vivo sem você. Não é preciso definir quem ligou para quem. Ambos fizeram isso, afinal, é o Dia. Durante o trabalho, aquele friozinho no coração, não vê a hora de largar o batente e cair nos braços, trocar aquele beijo quente e de entrega. Fazer mais.
            Por volta das 19 horas conseguem se livrar da labuta. Trânsito e sem planos, resolvem jantar num lugar aconchegante. Não se combinam neste ponto. O dinheiro não é problema, podem pagar o melhor restaurante de São Paulo. Mas ele quer massa e vinho e ela quer manter o regime e a abstinência. Como o dia é de trégua, optam por um peixe, mas com luz de velas.
            A fila já começa pelos valets. Tem senha para poder entregar o carro. Todos os casais da cidade resolveram vir neste lugar. Ela retoca a maquiagem a cada 5 minutos, acendendo a luz interna e apagando, entre um cigarro e outro. Ele presta atenção no rádio, no retrovisor, na vez e no relógio. Buzinas e motores acelerando. Uma família exaltada espinafra a fila dupla que entope a fluência do trânsito. Não há nada de romântico no ar.
            Na fila da porta de espera do restaurante, na calçada, mais uma constatação: vai demorar para sentar e ficar se entreolhando. É uma carreira de casais abraçados, tentando manter um mínimo de calma, em meio ao trânsito de carros e pedestres que assistem ao circo. Nem uma cortesia do restaurante, estamos ao frio, pelo menos não há garoa e o céu de São Paulo está deslumbrante.
            São 23 de horas quando nosso casal consegue um lugar à mesa. É um canto fora da janela, na ala de fumantes e passagem dos garçons. Não há o vinho que se quer, mas o que restou.
           
Edman Izipetto
12/06/2007