segunda-feira, 10 de setembro de 2007

São Paulo, virado à

O sol é generoso, mas o resto do trabalho não deixa ele iluminar. Muita fumaça por nada, apenas para continuar. Todos têm seus cabrestos, olham para frente e talvez daí se esqueçam de sinalizar. Direita, esquerda, ré. Por que a pressa? O sinal, o sinal...olá, como tchau, já vou fugindo e você...Quem viu o enorme disco laranja a se deitar por trás dos prédios do BNH neste sábado, interstício de feriado?
Plantas de metrópole são solitárias. Aqui e ali, sem continuidade, sem bichos. Os ipês reinam em setembro mas é preciso achá-los, procurá-los e, mais difícil, admirá-los. Ficar parado olhando uma árvore pode derrubar a bolsa, subir o dólar e causar flutuações nas comodities. Sempre há um marronzinho à espreita para multar, mesmo que a arte lhe convide a não seguir, o flagrante o empurra marginal adiante sem direito a rodar. Pobre rio congestionado de sujeira, artéria doente terminal cuja água são apenas lágrimas de saudade. O rio também é um solitário sem vida...
Cores também encobrem, mas aqui até os tons pastéis cheiram à gordura trans. Tudo é fast food. Rápido. Toda refeição é um virado, uma mistura de texturas que mal tocam à boca, o organismo, mas entopem. Veias, artérias, rios. Todos acabam recebendo seu colesterol civilizado, urbano e mal pago. Cores, o céu felizmente encheu-se deles e procura amenizar o início da noite, onde tudo é um reflexo de alguém.
Não há mais letreiros nesta cidade. Apenas luzes refletidas no rio morto, nos vidros dos edifícios, nos retrovisores, nas almas que viraram espelho, apenas refletem exteriores sem identidade. Não há o que achar por aqui. Apenas consumir...
Cabe ao poeta descobrir estes rostos, transformar este virado num guisado recheado, colocar a cidade ao redor dos ipês, arrumar as estrelas para indicar os caminhos, trazer para a minha janela aquele sol poente e defumar ao meu redor destes ares doentes.
"Eu sou poeta e não aprendi a amar", a não ser que tenha luz própria...

Edman 10/09/07