quinta-feira, 22 de abril de 2004

Trabalho voluntário e responsabilidade solidária

Todos que estão lendo estas palavras não estão aqui por acaso. Decidiram estar. Cada um com a sua história, sua vida e a simples decisão de dedicar parte de seu tempo a ouvir a história dos outros. A vida moderna nos tirou esta capacidade, de parar e ouvir o que outra pessoa tem a dizer. Nossas falas sempre são mais importantes, isto não é defeito ou qualidade, é natureza, instinto de sobrevivência.
Quando atendemos alguém somos, naquele momento, a pessoa mais importante para o interlocutor. Temos a capacidade de encarnar o pai ausente, acalmar a mãe dominadora, pacificar o irmão genioso, compreender o filho rebelde, revelar o amigo desconhecido, reaproximar o cônjuge genioso. Somos seu confidente, seu cúmplice, seu amigo. Somos todos ouvidos.
Este exercício, o de poder falar o que está sentindo sem censura, sem conselhos ou frases feitas, permite à pessoa ir se descobrindo, ir liberando suas angústias e amarguras e a partir desta verdadeira faxina, traçar seus próprios caminhos e comportamentos. Este é o espírito do nosso trabalho.
Mas também somos humanos, com todos os limites que esta condição nos impõe. Precisamos dividir para não esgotarmos nossa própria capacidade de ajudar. Nossas vidas cotidianas devem continuar seguindo seu curso, nosso aprendizado da vida, nossas relações de amizade, de família e nossos compromissos profissionais e sociais não podem, e não devem, ser interrompido, pois aqui não é, para nós, compensação, mas uma decisão de qualidade de vida. Nossa melhor maneira de divulgar o trabalho é o de também melhorarmos com os nossos entes queridos.
Como membros de um grupo, há pessoas diferentes e as habilidades e individualidades também o são. Nossa reunião é para colocar isto. Conhecendo-nos, poderemos respeitar os limites de cada um e potencializar o melhor que cada um pode dar de si para este importante trabalho. Dividir para somar, pois no mundo há mais pessoas precisando de um ouvido amigo do que dispostas a ouvir. Nós optamos pela minoria, mas ela é forte quando é unida.

Edman Izipetto
22/04/2004