quinta-feira, 12 de junho de 2008

Como se fosse a primeira vez

            Mais uma data para alegria, e muito amor, das operadoras de cartão. O que fazer neste dia massificado, “merchandising”, bateria de corações pulsando nas telinhas, telonas, folder, jingles e... Afinal, apenas para materializar o sentimento por meio de um presente. Mas um amor não se conquista todo dia? Com estratégia, com carinho, com paixão, com persistência. Mas vá esquecer de algo neste dia e, pronto, já era...
            Presentear, paparicar, agradar e esquecer rusgas, deixar a força vital fluir e olhar apaixonadamente como se fosse a primeira vez. Está aí algo bem simples para nossa complexidade de complexos contaminar e comprometer a delicadeza de um simples e sincero carinho.
            Está certo, aos afortunados, se chegar com uma Ferrari de presente, creio que até o cartão seja dispensável – em alguns casos tua própria companhia – o presente em si, pelo valor e pelo ícone, diz tudo. O manjado buquê de flores, estas cada vez mais transgênicas e virtuais, dependendo de como você o dará e acompanhado de algo que sua paixão queira ou goste, marcará o dia. Mas não vá com lembrancinha que o risco de não ter o que comemorar será grande...
            O compromisso social neste dia é intenso: cesta de café da manhã, talvez um almoço informal em horário esticado, correio eletrônico ou torpedos, por toda a tarde, com todas as breguices românticas e ridículas que só apaixonados se permitem fazer, jantar à luz de velas, um vinho que agrade ao par, comidas exóticas e afrodisíacas, som de fundo, bem de fundo, que desperte a serpente kundalini para queimar todas as calorias, iguarias e fantasias.
            Véspera de Santo Antônio, dia de muitas mandingas e simpatias para quem está sozinho – como se isso fosse um castigo – e de visitar uma quermesse para combinar pinhão com quentão. A Lua estará crescendo no céu, a temperatura estará convidativa para o abraço, o amasso, o contato. Os perigosos balões irão riscar o noturno teto de pegadas de arandelas, apontando para onde os ventos sopram e deixando muitas sombras para os beijos furtivos.
            Todas as receitas foram dadas pela mídia, do patê de foiagras ao tagliatelle com toques picantes e ervas aromáticas, da carne macerada em aceto balsâmico ao fundo de alcachofras com trufas, do mascarpone com geléia de amora aos damascos salpicados de cacau e noz moscada, você foi intoxicado pela quantidade de menus que lhe caíram ao colo, no fígado e no bolso, que até perdeu o apetite e, num ato de sabedoria, desistiu do restaurante, das filas, das discussões dos outros casais, da perda de tempo com rituais banais e marcados para o mesmo momento.
            Encontre seu par antes de tudo, chegue meio tímido, mas decidido. Faça-lhe um carinho no rosto como se estivesse afastando os cabelos da face. Olhe bem profundamente nos seus olhos até que a tua imagem esteja tatuada na retina dele. Não importa há quanto tempo o conheça, pergunte se quer te namorar porque você o ama e que a vida não teria graça, não haveria o que comemorar, se não pudesse compartilhar este olhar. E lhe beije, como se fosse a primeira vez, sempre. Tudo o mais será acessório apenas, tudo o mais...Desde que não esqueça de lembrar...

Edman Izipetto, ótimo dia para namorar...
12/06/08

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Você faz parte

            Datas são marcos, umas pessoas dão importância, outras ignoram, muitas esquecem e a grande maioria comemora sem saber o porquê. Mas dia do Meio Ambiente é sério, muito mais que calendário, afinal onde é que vivemos?
            Você já parou para pensar o que faz com a água? Nós a represamos na nascente, a batizamos com cloro e outros ingredientes e a devolvemos completamente suja, de gorduras, detergentes, urina e coco. A água, que antes percorria limpa o rio, agora é agregada de “humanidade”, engrossada de dejetos e falta de oxigênio. Nós temos que viver, não vivemos sem a água, mas fazemos de tudo para que ela se esgote no esgoto da imprudência. Já li isso alguma vez, não é meu, mas é apropriado: ninguém deixa a torneira da mais fina Champagne aberta enquanto entorna a taça, faça isso com a água que você usa.
            E nossos lixos, como é difícil reciclar. Há tantos contratempos que às vezes é melhor jogar tudo junto mesmo. O papel assim pode o assado não, o plástico de fundo tal serve o outro não, latinhas amassadas, plásticos lavados e sem rótulo, retira as tampas de metal. Qual é? Assim que ninguém vai reciclar mesmo... Por que o alumínio deu certo? Porque é simples, pisa e pronto, separa e tem sempre alguém recolhendo. Que tenha especialistas ou mão de obra para separar o papel, os plásticos, os vidros, e que ganhem com isso. Até hoje não sei se aqueles sacos de salgadinhos, metalizados e engordurados, podem ser colocados em plásticos, metal ou orgânico (e todo dia tem um na entrada da minha casa, largado por um futuro obeso ou hipertenso).
            E sua área verde, você cuida dela? Você deixou algum lugar para a terra respirar onde mora? Você já plantou uma árvore hoje?
            Mais do que distribuir mudinhas, e isso é didático e importante também, precisamos preservar as já existentes. Uma árvore viva na grande São Paulo é uma guerreira, uma linhagem especial da espécie, e merece ser reverenciada. Alguém resolveu plantar árvores frutíferas há 30 anos e os pássaros voltaram. Quem sabe a garoa também volte se plantarmos agora a flora nativa da Mata Atlântica que cobria os morros por aqui. Quem sabe não trazemos de volta a cor azul cobalto do horizonte em substituição ao laranja mercúrio de hoje. Quem sabe nossos rostos fiquem menos sujos de pó preto. Quem sabe não tenhamos um ambiente inteiro para viver se cada metro quadrado disponível tiver uma planta respirando.
            O que você fez hoje pela sua Terra?

Edman Izipetto
05/06/08