sábado, 27 de agosto de 2011

Lembranças da Serra Gaúcha

Eu tive a sorte de trabalhar no Guia 4 Rodas, e a competência de permanecer lá por 10 anos, e uma das viagens que fiz está marcada até hoje na minha memória. Foi na região da Serra e Vinho Gaúchos, onde encontrei muitos descendentes, como eu, de imigrantes italianos, além de oriundos da Alemanha. Devo ter engordado uns cinco quilos (estou sendo condescendente...) neste "trabalho".
Aterrizar em Porto Alegre, por mais que os colegas tenham me antecipado, é uma beleza só. Como gaúcha é bonita, Dio mio, quanta ragazza, barbaridade tchê. Carro alugado, mas que sotaque agradável, e vou eu rumo ao destino embriagante e pantagruélico. Apesar de ir para uma região onde o frio é o atrativo, era verão quando lá estive.
Não pretendo citar lugares, mas passagens, e minha primeira refeição foi uma colonial: pães, queijos, embutidos e outras iguarias, com um ótimo vinho nacional que até então eu desconhecia. Após madrugar para pegar o vôo, toda a agitação para chegar à primeira cidade, uma refeição destas é para premiar, já que tudo é feito pela família, não havia nada industrial. Fui dormir satisfeito...
Fui bem cuidadoso no farto café da manhã, já que iria visitar cantinas e, degustar vinhos. Em umas dessas visitas, eu estava sozinho e uma bela guria de olhos turqueza, loira e com a cor de camarão por ter tomado muito sol no fim de semana, atendeu-me com um sorriso prá lá de tri legal. Ela inverteu os papéis, me fuzilou de olhares e perguntas, queria saber como era São Paulo, como era meu trabalho, como eu era... Ela falava comigo entre uma uva e outra, de uma bandeja com vários cachos de niágara, e colocava maliciosamente as uvas entre os lábios antes de sorvê-las. Até que centralizou aquele olhar de horizonte mar e céu e me perguntou: Tu queres um bago guri?
Café Colonial, vá a pé de Porto Alegre até a Serra antes de encarar um, assim não haverá remorso e você vai poder experimentar tudo, embutidos, queijos, tortinhas salgadas e doces, patês e geléias, pães, bolos, frutas, doces e, claro, café com leite ou chá. Imagine uma mesa dessas para um viajante solitário e que não foge à labuta do trabalho diário e estafante... Santo Dio
No meio deste tempo atemporal, sabia que era um domingo e estava na área rural, transitando por entre parreiras e estradas de terra, parecia a Toscana, até que vi uma idosa, toda vestida para missa, caminhando sozinha em meio à poeira. Parei o carro e ofereci carona - apesar de vestir preto, tinha o rosto enrugado bem maquiado - no que ela me perguntou, com sotaque: Di qui famiglia oste é? Eu respondi, Izipettô, e a senhora entrou no carro e foi comigo até uma igreja, uns três quilômetros adiante, sem proferir uma palavra sequer, apenas um obrigado quando saiu. O sino tocava quando chegamos, acho que ela já estava atrasada e Felinni gostaria desta cena...
Restaurante de Galetos: Capeletti in Brodo, radicci com toucinho, polenta frita ou de forno recheada com muzzarela, galeto assado, maionese, massas e sobremesas. Para comer sem pressa e sem culpa, basta escalar o Itaimbezinho e tudo volta ao normal. Felicitá...
Não sei se ainda existe, mas quando estive por lá a Adega Medieval, em Viamão, era uma referência de vinho artesanal. Fui atendido pelo próprio Oscar Gugliomoni (desculpem se não acertei a grafia), que não só me mostrou seus tonéis, como dividimos um branco antes do almoço, e um tinto durante, que foi arroz, feijão, abóbora e cochas de frango. Um apaixonado por vinhos e responsável por este autor também gostar de taças e rótulos. Anos mais tarde soube que morreu assassinado, um desperdício...
Eu lotei duas caixas de isopor, grandes, com garrafas que fui comprando aqui e ali, por não encontrá-las em São Paulo. Na volta quis o destino que eu pegasse um vôo que vinha de Buenos Aires, além de poder passar no Free Shopping, tive que me explicar na Receita Federal o que iria fazer com tantas garrafas. Quando a auditora, que não tinha os mesmos dotes das gaúchas, viu que eram vinhos brasileiros, mandou eu passar, não sem lançar a pergunta: o que você vai fazer com tanto vinho? Degustá-los...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Aromas de conversa

Hoje saí da toca para entregar os pães, todos que fiz na penúltima fornada estão agora cumprindo seu destino, o que é ótimo e me permitiu relevar o trânsito de São Paulo no roteiro São Bernardo do Campo, Jardim da Saúde, Belém, Cerqueira César e Pirituba, radiador esquentando, luz de óleo acendendo, gasolina no raspo do tacho e o rodízio limitando meu tempo e tornando a aventura mais emocionante: cruzei a marginal  Tietê exatamente às 17 horas em direção à última entrega e uma grande surpresa.
Satye Yada, terapeuta holística - cujo blog está na lista ao lado - eu conhecia apenas de vista, quando ambos trabalhamos na Movie&Art Produções Cinematográficas (merchand gratuíto porque gostei de trabalhar lá, sou grato) e depois no Facebook. Ela pediu o pão pelas fotos que postei ontem, não conhecia meu lado alquímico nem eu fazia idéia da terapia dela. O trabalho convencional limita a nossa vida, nos faz perder momentos preciosos, como uma conversa sem os receios de estar dando munição a um adversário, que é o que acontece no mundo competitivo de hoje.
Eu levei o pão e ganhei uma padaria de conhecimento. Fui brindado sobre aromaterapia (e não vou contar detalhes porque isto é uma ciência, precisa estudar muito para poder falar e quem quiser eu indico a Satye e você agenda uma consulta). E conversa vai, conversa vem, e dá uma cheiradinha aqui, uma explicação, uma interpretação e fui convidado para jantar...
Ofereci ajuda no que Satye transmutou-se em bushi, pude até vê-la vestida  de o-yoroi e respondendo que se eu tentasse ajudá-la, na cozinha dela, ela faria uso da katana samurai e sssffficth (é, bem no lugar que você deve ter imaginado). Contentei-me em lavar a louça e quanto a isso não corri nenhum risco de mutilação...
De uma frigideira alta, cubos de frango, maçã, repolho rasgado, um cheiro de alecrim e óleo de gergelim no final, acompanhados de molho, criação dela, a base de missô, shoyo, sakê, açucar, alho e gengibre, que é uma delícia e que vou tentar reproduzir aqui em meus pratos. Frango a Yada, acompanhado de gohan.
Isto tudo aconteceu porque não achei longe, nem reclamei de atravessar a grande São Paulo para entregar pão. A gente atrai o que pensa e ouvi muita sabedoria nesta tarde/noite de quarta-feira. Prometi fazer um spaghetti al vôngole para ela e o filho (mas irei previamente paramentado com uma armadura, nunca se sabe quando o bushi vai baixar de novo...). Esquecemos de fotografar o prato, fica para a próxima

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Paternidade

Era um sábado qualquer, dia de sol e meu saudoso pai disse que iríamos assistir ao jogo Palmeiras e Saad, no Parque Antárctica, para nós na longínqua Água Branca, duas conduções e tudo o mais. A primeira vez a gente não esquece e, naquele tempo jogo ao vivo pela TV era raríssimo, estava mais acostumado a ouví-los pelo rádio, com Fiori Gigliotti e, com muito mais emoção, Osmar Santos. Naquele tempo meu time disputava, e ganhava campeonatos...
Meu coraçãozinho de pré-adolescente bateu forte quando escutei, ainda na bilheteria, o grito da torcida que canta e vibra. Meu pai, com a sabedoria expontânea de caboclo do interior, profetizou que o time adversário já devia estar na frente do placar, e não deu outra, quando conseguimos um lugar na arquibancada, na curva posterior à das piscinas, já estava 0 x 1, que no decorrer no primeiro tempo viraria 0 x 2. Mas os times trocaram de campo, e assisti o empate do Palmeiras naquele lugar mesmo, e meu time seria campeão paulista daquele ano. Assistir ao jogo do seu time com seu pai não tem preço, independente do resultado... e esta é uma das melhores lembranças que tenho do meu pai.
Tenho dois filhos únicos, pela diferença de tempo que eles vieram ao mundo, e posso garantir que o nascimento deles foram momentos ímpares na minha vida. Não tem como explicar ver aquele ser, ainda com cara de joelho inchado, aparecer para o mundo. É a nossa maneira de parir, e única também, já que a natureza nos reservou o papel de coadjuvantes - e com a modernização da medicina, cada vez mais secundários - no processo de gestação. O homem que não presencia isto é um ser incompleto.
Quis o destino que eu encontrasse uma enteada, que apesar do relacionamento ter se transformado em amizade, continuamos com uma ligação de pai e filha. Não a vi nascer para o mundo, mas tenho a grata satisfação de acompanhá-la no despertar para vida, já trilhando seus projetos e escrevendo suas poesias. Eu sou uma pessoa de muita sorte.
Hoje ser pai é bem mais complicado (para quem ainda não leu, minha crônica Dia de Homem tenta explicar alguma coisa). Não basta contribuir com a genética, você vai ter que aprender, e suportar, trocar fraldas, tirar temperatura e passar as primeiras noites em claro, sob o risco de ser despejado da função. Aquela figura que sai de manhã para trabalhar e volta à noite, fingindo ouvir o que a mãe descabelada e cheia de olheiras tenta te contar, não cola mais. Tome sua linha ou o próximo filho sairá de um banco de espermas...
E este novo comportamento não tira os antigos, como satisfazer as vontades da gestante, por mais absurdas que sejam, no meio de uma noite fria e chuvosa, em tomar sorvete de cupuaçu ou ir procurar ostras frescas no litoral. Ter um rebento com a cara de sorvete ou de molusco não é um risco que valha a pena correr. E tem que ser carinhoso, porque a futura mãe chora para qualquer espirro que você dê enviesado. Não temos as dores do parto, mas que elas aproveitam, isto aproveitam sim.
Devo registrar que repeti o ritual do futebol com meu filho mais velho, numa época brava para o Alviverde, mas aí espero que ele mesmo conte sua experiência. Com o filho mais novo visitei o museu do futebol, e nos divertimos muito naquela tarde ensolarada no Pacaembu. Com a filha existe um problema de incompatibilidade de torcida (rsrsrs). Mas os três têm algo em comum em relação a minha pessoa: devoram os pratos que, porventura, eu preparo para eles, e não tem emoção maior, para um pai, do que esta.

Edman
12/08/2011
Parabéns a todos os pais, heróis ou não.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Hastes flexíveis MacGyver

No atual nível de consumo, que o Brasil descobriu recentemente de uma maneira mais democrática, os pequenos consertos ficaram para plano X, para xô coisa quebrada que eu quero uma nova. Passou a garantia de eletroeletrônicos, pifou vai para o lixo (aliás, tem lugar certo para descartar estas coisas, não na calçada dos vizinhos ou no reciclável, procure no link: http://www.prac.com.br/ ), e a natureza que se vire, e ela está se virando com a gente no meio desta gastrite toda. Mas isto é assunto para outra história...
Estava há três anos sem usar o alarme do meu carro porque a peça que o aciona, que fica junto às chaves, estava com problemas. Acendia e nada do pi, ou pi pi pi. Fui num centro automotivo especializado em alarmes - pelo menos é este o peixe que ele vende, ou vendia - e ouvi a seguinte explicação: "esta peça não tem conserto, você vai ter que trocar todo o alarme..."
Não satisfeito e nem burro, fui num chaveiro que realiza este tipo de coisa, e ouvi a mesma ladainha, aí acreditei porque ele apenas conserta, não vende alarmes. Coloquei a Bíblia dos Espíritas dentro do carro, uma fita vermelha no retrovisor central, e nenhum ladrão encantou-se pelo meu automóvel, que não é lá mais tudo isso, tem mais de dez anos, mas é meu.
Não sei porque cargas d'água um dia destes qualquer achei a cópia da chave, que pensei ter perdido, como se encontra essas coisas que você cansa de procurar e não aparece, ela literalmente caiu no meu colo de um lugar que havia revirado várias vezes - que elas existem, há se existem. Eu já o havia aposentado - eu o usei primeiro quando comprei o auto (espaço para merchand) - porque também estava com defeito. Resolvi abrir, achei que estava sujo, peguei uma haste flexível (olha o merchand que poderia haver aqui), molhei suavemente no álcool, e limpei. Pilha nova e meu alarme, que teria que ser todo trocado, voltou a funcionar.
Neste final de semana, tinha alugado dois dvd's e só consegui parar para vê-los domingo à noite. Tinha esquecido que para eu acionar o dvd na minha tv, um tal de imput, preciso do controle remoto, que está quebrado. Como todas as coisas que eu compro, meus aparelhos são muito difíceis de achar peça. As do meu carro vem todas da longínqua Argentina, que eu só soube depois que comprei, e que está sempre em falta para justificar um preço acima da tabela. Minha tv também, apesar de dois controles originais, eles perderam o controle do tempo e deixaram de on/off. Um deles funcionou até outro dia, com um pedaço de papel dobrado entre as pilhas, forçando a barra e minha paciência quando deixava de funcionar. Até que houve um último suspiro e resolvi levar a um técnico, após um dia de análises ele decretou o óbito, sem direito a respiração circuito/circuito. Fui procurar um novo. Não existe, tem de todas as marcas, menos da minha. Até que achei uma que poderia servir, claro que o dobro do valor das outras.
Funcionou dois meses. Fui procurar alguma explicação e vi, made in China. Fui enganado duas vezes, na origem e no valor, que deve ter custado bem menos do que paguei. Onde está a nota, acho que entrou no mesmo buraco que estava a chave, sumiu. Mas deixa pra lá que ainda resolvo esta pendenga...
Então sem controle, sem dvd. Abri o véinho, que tinha funcionado até outro dia, parecia o mapa do Egito, com suas pirâmides cercadas de areia. Limpei, apelei para as hastes flexíveis com álcool, coloquei as pilhas (espaço para merchand) e, funcionou, sem os papéis no meio delas. Santo Álcool dos circuitos ressuscitados...

Edman
09/08/2011