sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Paternidade

Era um sábado qualquer, dia de sol e meu saudoso pai disse que iríamos assistir ao jogo Palmeiras e Saad, no Parque Antárctica, para nós na longínqua Água Branca, duas conduções e tudo o mais. A primeira vez a gente não esquece e, naquele tempo jogo ao vivo pela TV era raríssimo, estava mais acostumado a ouví-los pelo rádio, com Fiori Gigliotti e, com muito mais emoção, Osmar Santos. Naquele tempo meu time disputava, e ganhava campeonatos...
Meu coraçãozinho de pré-adolescente bateu forte quando escutei, ainda na bilheteria, o grito da torcida que canta e vibra. Meu pai, com a sabedoria expontânea de caboclo do interior, profetizou que o time adversário já devia estar na frente do placar, e não deu outra, quando conseguimos um lugar na arquibancada, na curva posterior à das piscinas, já estava 0 x 1, que no decorrer no primeiro tempo viraria 0 x 2. Mas os times trocaram de campo, e assisti o empate do Palmeiras naquele lugar mesmo, e meu time seria campeão paulista daquele ano. Assistir ao jogo do seu time com seu pai não tem preço, independente do resultado... e esta é uma das melhores lembranças que tenho do meu pai.
Tenho dois filhos únicos, pela diferença de tempo que eles vieram ao mundo, e posso garantir que o nascimento deles foram momentos ímpares na minha vida. Não tem como explicar ver aquele ser, ainda com cara de joelho inchado, aparecer para o mundo. É a nossa maneira de parir, e única também, já que a natureza nos reservou o papel de coadjuvantes - e com a modernização da medicina, cada vez mais secundários - no processo de gestação. O homem que não presencia isto é um ser incompleto.
Quis o destino que eu encontrasse uma enteada, que apesar do relacionamento ter se transformado em amizade, continuamos com uma ligação de pai e filha. Não a vi nascer para o mundo, mas tenho a grata satisfação de acompanhá-la no despertar para vida, já trilhando seus projetos e escrevendo suas poesias. Eu sou uma pessoa de muita sorte.
Hoje ser pai é bem mais complicado (para quem ainda não leu, minha crônica Dia de Homem tenta explicar alguma coisa). Não basta contribuir com a genética, você vai ter que aprender, e suportar, trocar fraldas, tirar temperatura e passar as primeiras noites em claro, sob o risco de ser despejado da função. Aquela figura que sai de manhã para trabalhar e volta à noite, fingindo ouvir o que a mãe descabelada e cheia de olheiras tenta te contar, não cola mais. Tome sua linha ou o próximo filho sairá de um banco de espermas...
E este novo comportamento não tira os antigos, como satisfazer as vontades da gestante, por mais absurdas que sejam, no meio de uma noite fria e chuvosa, em tomar sorvete de cupuaçu ou ir procurar ostras frescas no litoral. Ter um rebento com a cara de sorvete ou de molusco não é um risco que valha a pena correr. E tem que ser carinhoso, porque a futura mãe chora para qualquer espirro que você dê enviesado. Não temos as dores do parto, mas que elas aproveitam, isto aproveitam sim.
Devo registrar que repeti o ritual do futebol com meu filho mais velho, numa época brava para o Alviverde, mas aí espero que ele mesmo conte sua experiência. Com o filho mais novo visitei o museu do futebol, e nos divertimos muito naquela tarde ensolarada no Pacaembu. Com a filha existe um problema de incompatibilidade de torcida (rsrsrs). Mas os três têm algo em comum em relação a minha pessoa: devoram os pratos que, porventura, eu preparo para eles, e não tem emoção maior, para um pai, do que esta.

Edman
12/08/2011
Parabéns a todos os pais, heróis ou não.

Nenhum comentário: