quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Agressões e corporativismo!

            Logo que entrei no ônibus – uma viagem do escuro Parque Dom Pedro II até o Parque Terranova II, em São Bernardo do Campo – liguei meu walkman sem muita potência na CBN. Tive a impressão que o Guarani goleava o Palmeiras. Os comentários do eterno torcedor tricolor Raí comprovavam minha teoria. Mas ao fundo era possível ouvir a torcida do Palmeiras incentivando o time. Eu não entendi nada e, para completar minha angústia, o locutor Deva Pascowick (não sei se a grafia está certa ou não) simplesmente não dava o placar e dizia que a torcida bugrina estava em festa. Foram 15 minutos nessa dúvida e só quando encerrou o primeiro tempo é que soube que estava zero a zero.
            O repórter da emissora (que não lembro o nome) entrevista o Marcos, o Sérgio e, de repente, diz que o Leão agrediu um repórter. Ele presenciou isto. O Raí, do alto da cabine de transmissão, também disse que viu a agressão. Não há, até o momento que escrevo este relato, imagens do acontecimento que dominou o intervalo de jogo. Victor Binner (desculpe também se a grafia não estiver correta), que estava em São Caetano do Sul para comentar outra partida, entra no ar e tece um rosário de críticas ao técnico do Palmeiras.
            Na volta do vestiário, o mesmo repórter relata que dois profissionais haviam caído sobre as placas de publicidade. Um cinegrafista e o repórter Leandro Quesada (que não quis se pronunciar na hora) da Rádio Bandeirantes. Quando já iam colocando o Leão no meio da confusão Raí antecipou e disse que não havia acontecido nada. O técnico do Palmeiras só queria se encaminhar do vestiário ao banco de reservas e havia sido cercado por repórteres e cinegrafistas.
            No final da partida Leão já havia sido julgado e condenado pelos coleguinhas. Como não existiam imagens de TV comprovando a agressão, os repórteres de campo tornaram-se testemunhas oculares do embate. Um importante narrador esportivo, que vou me furtar de mencionar, resolveu banir o técnico do meio esportivo e incluiu o jogador Edmundo, afirmando que ele deveria estar preso e não jogando bola (como se não existisse poder judiciário para isso).
            Nos programas esportivos pós-partida supostos agressores e agredidos foram ouvidos em suas versões e isto tomou conta do noticiário esportivo, em detrimento à retomada da liderança do Paulistão pelo Palmeiras, mesmo empatando com o Guarani em Campinas por 1 x 1 e com um jogo a menos em relação aos demais primeiros colocados. Nas manchetes Leão “foi para a delegacia após partida”.
            No dia seguinte em matéria da Lancepress: “O assessor da presidência do Palmeiras, Antônio Carlos Corcione, que está em Campinas para auxiliar o técnico Leão na confusão envolvida com um jornalista, disse que o exame de corpo e delito constatou uma leve lesão nos dentes do técnico”. O laudo confirma, em parte, que a versão do Leão tem um fundo de verdade que nenhum repórter de campo presenciou: o de que ele foi vítima, e não réu, de agressão.
            Quando Leão dirigiu o Santos esta reação da mídia não existia. Quando dirigiu o tricolor então, era paparicado e só então ganhou o rótulo de “um dos melhores do Brasil”. Agora no Palmeiras só levantam seu comportamento, seus jeitos e trejeitos e não que está liderando o campeonato regional mais difícil do país. Sem dinheiros obscuros (a mídia simplesmente esqueceu disto) e sem aliciar jogadores de outros times ou atravessar negociações em andamento. O que será que o Palmeiras fez para ter este tratamento diferenciado da mídia? Ou será que não fez?
            Edman Izipetto, jornalista e sedento por igualdade de tratamento.
09/02/2006

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