sábado, 4 de junho de 2011

Almoço num sábado frio

As pessoas são assim mesmo, ou se recolhem entrevadas em suas tocas "porque está muito frio para sair para qualquer lugar", ou apontam o nariz vermelho e renitente para a primeira esquina envidraçada.
Sábado, dia nacional dza feijoada e a temperatura em torno dos 15 - sensação térmica de 10º C - convidam aos corajosos, ou os que não tem muita opção mesmo.
Padaria de esquina, em frente outra padaria, ao lado um restaurante de grande porte, um dos vários de uma rota do ABC conhecida como "frango com polenta". A concorrência é a única aliada do consumidor, qualquer outra alternativa é pura dialética eleitoreira e demagógica.
Sempre há uma mesa com a turma do macacão, cuja maior disputa é a medida de suas supostas cinturas, uma gravidez masculina concebida a custa de muita cerveja, gordura saturada e o sedentarismo mórbido que deve minar a grande potência em breve. Seus pratos são verdadeiros Vesúvios incandescentes, fumacentos e prontos a entrar em erupção interna, levando o magma colesteriorino aos vales cardíacos e infartantes.
Uma mesa com o filho e o pai. Um parenteses neste fato. O filho com o pai sozinho, num almoço de sábado, é cumprimento judicial. Nenhuma mãe, em sã consciência, daria esta alforria se ainda estivesse comprometida com a paternidade. Matreira, ela sabe onde o ex está, esforçando-se ao máximo para compensar o filho de sua ausência inexpontânea, sabe que o rebento não corre perigo algum, e aproveita o tempo livre para fazer um download de suas necessidades mais básicas.
O pai pede fritas, arroz e iscas de carne acebolada, além de dividirem uma Coca 600 ml. Pagar pensão é um esfoliamento mensal, menstrual, que vai minando tuas finanças e auto estima. O filho, em torno dos 5 anos, não sabia o que eram fritas, e o pai não entende nada de nutricionismo.
Na mesa ao lado uma mulher, duas pré-adolescentes e seus indesconectáveis celularMP3, e uma garotinha, também em torno dos 5 anos. A mulher chegou primeiro, fez um prato de empreitada e devorou antes que as garotas sentassem. Ofereceu um nugget à menor, mas ela reclamou que havia uma manchinha escura. Devidamente "limpa", a menina mastigou aos poucos, como uma roedora. Balbuciou, em tom de ordem, alguma coisa à mulher, e esta foi buscar o prato: nuggets e spaghetti. Espero que não ocorra, para o bem dos filhos, um romance entre esta mãe e o pai da mesa em frente, ambos não sabem nutrir seus herdeiros com as vitaminas e sais minerais de uma boa conversa, seja em qualquer lugar que estejam, pois a distância entre estes adultos e as crianças que os acompanham era bem maior que o quarteirão que separa as outras opções de restaurante.
Embora estas duas situações deixaram-me pensativo, outra revoltou-me à gastrite: num casal um pouco mais distante da minha mesa, vi uma heresia para os meus padrões gastronômicos, por parte da mulher... Em três quartos do prato, a feijoada em toda a sua voluptuosidade, na outra parte, um spaghetti afogado em "su tinta", perguntando-se o que é que estava fazendo ali...
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edman izipetto
04/06/2011

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