terça-feira, 24 de maio de 2011

A garota das caçambas

Ela tem no fogo de viver o dom da fusão em transformar arames farpados - cercas limítrofes da existência dos mortais - em seres animados, que enfeitam aos olhares mais soturnos e libera, quais crianças no toque da escola, a imaginação mais adulta e tacanha.

Pedaços de madeira, lançados de volta à selva de concreto, são por ela recuperados como animais abandonados, limpos, tosquiados, tratados com o carinho de temas festivos, sensuais, instigativos: numa homenagem à árvore abatida, reescrevendo sua função de embelezar, sombrear e devolver o puro ar da arte.

Às telhas que outrora protegeram outros tetos, agora renegadas a entulho, os pincéis da menina Cuca devolvem a imponência de coroa, sugerindo tantas jóias quanto as cabeças que a cobrem e admiram possam visualizar.

Objetos largados pela idade, ou lascados pelo uso, tem por ela um banho de luzes e são customizados pelas suas mãos sem preconceitos, renascendo como objetos de desejo.

A artista feliz vai colorindo suas pegadas e borrifando gotas de vida a quem tem o privilégio de encontrá-la no caminho.

Um comentário:

helenabranco.poet@gmail.com disse...

o poeta transfere-se o olhar sobre o fio das coisas, através da metáfora a garota que torna restolho em arte e no gesto adoração...

a prosa poética tem a leveza do voo e a intimidade `da brisa na folhagem... Helena Branco