quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Entre as festas

            É como a quarentena no deserto do ócio. Os sete dias que separam o Natal do Réveillon são um suplício para quem está trabalhando, para quem não está, e para quem precisa que os outros trabalhem.
            Você que ganhou o prêmio de funcionário do mês, não podia dizer não ao chefe. Realmente é um reconhecimento e tanto vir sozinho nesta semana morna, mas você está com a honra de ficar com a chave, abrir o escritório, sempre pode haver uma correspondência importante. E não tem trânsito mesmo, mas o que importa isto se para você o ônibus não vem vazio e demora mais para passar, pois os donos da empresa também acham que ninguém trabalha nesta semana. E vai comer resto do Natal porque os restaurantes entraram em férias coletivas.
            E você, que pensou que ia botar bermuda e chinelo de dedo, tua parceira já fechou toda a sua agenda. Primeiro os consertos: torneiras pingando, chuveiro espirrando, chave elétrica caindo, telhas trincadas, se bobear vai querer pintar a casa toda... E você, dentro da ressaca normal desta semana, com toda aquela vontade de quem não acordou ainda, vai procurar a caixa de ferramentas para evitar curto circuito em casa. E num misto de alegria contida em euforia, descobre que teu cunhado levou tuas melhores ferramentas e os acessórios para pequenos consertos.
            É a deixa para sair de casa, quebrar a rotina que você não projetou e, quem sabe, encontrar um conhecido para uma conversa de tremoços e cerveja. Mas a clarividência feminina é infalível. Ela vem com uma lista pronta de supermercado, já que você vai sair, já que vai tirar o cartão do bolso, já que... Você faz qualquer coisa para conseguir um álibi. Na tua cabeça, compra o mínimo no comércio local e tira o resto do dia para vadiar.
            O comércio local está aproveitando a semana para reformar. Acreditando que é só no seu bairro, vai ao próximo e é a mesma coisa. Agora você entende um pouco o que quer dizer crescimento econômico. A contra gosto, segue para um centro de compras mais complexo e já começa a sentir o drama na entrada, com fila para estacionar – quero minha semana de folga – e os apressadinhos querendo lhe furar a vez. O Natal já não passou?
            Acha que era só para trocar presentes? Parece que todos resolveram praticar bricolagem. Precisou disputar o último rolo de veda rosca, a fita isolante teve que ser Pink e as ferramentas, bendito cunhado, só havia os conjuntos completos, caríssimos e fora de questão por hora. A meia dúzia de telhas vai ter que esperar, muito embora o vendedor tenha lhe tentado empurrar outro modelo garantindo que dava certo.
            Seu primeiro dia de folga já está anoitecendo, você não almoçou e ainda tem que encarar o supermercado. Os caixas estão com filas intermináveis, com famílias inteiras se abastecendo para seguir viagem. A praça de alimentação parece um acampamento de desabrigados, com restos de embalagens e marcas de mostarda e catchup entre os banquinhos.
Vai no balcão mesmo, entre tapas e resmungos consegue pedir um chope e um pastel “frito na hora” que a atendente retira da vitrine aquecida. Massa emborrachada (daria um ótimo veda rosca) e a bebida, morna, choca e quase transparente. Será que se eu pedir um café ele virá gelado? Que o Réveillon chegue logo para tudo voltar ao normal, eu pegando trânsito para apenas ir trabalhar.

Edman Izipetto
29/12/11

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