quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Abaixo a dentadura

            Não é preconceito com este utilitário, haja visto que minha mãe o usa há tempos. Mas é ao simbolismo de retirar o mordedor, deixá-lo repousando ao lado da cama dentro de um copo d’ água e recolocá-lo pela manhã. Por mais útil que ele seja, é necessário um descanso para as gengivas, porque é um corpo estranho. Não interessa os motivos que levaram à perda total dos dentes – minha mãe, por exemplo, foi falta de grana mesmo – mas a dita cuja é artificial.
            O que os dentes têm a ver com as chuteiras? Ambos são responsáveis pelo sorriso.
            Está na hora de diferenciarmos os jogadores dentadura. São úteis até que não desgastem, mas nunca serão dentes de leite formados no clube. Estes respiraram as estações, cumprimentaram os funcionários e conheceram os sócios. Formaram identidade, têm raízes no clube e, independente dos limites técnicos que venham a demonstrar, jamais irão precisar repousar numa mesa de cabeceira.
            Por mais dinheiro que possa parecer, a curto prazo é mais barato, e quem enxerga o futuro vê isto claramente, segurar um prata-da-casa do que ir buscar jogadores bem empresariados. Para estes é mais um clube, mais um patrão. Talvez não se faça um time brilhante apenas com jogadores formados no clube, mas se faz um time vencedor.
            Vejamos o Magrão e o Ilsinho. O primeiro tem uma história de vencedor pela trajetória de sair da favela Heliópolis e conseguir jogar em um grande time como o Palmeiras, embora não tenha se formado lá. Identificou-se com o clube e fez juras de amor. Pisou na bola quando fez isso (e não pelo fato de ir jogar no arquirival, afinal é a profissão dele jogar bola). É um jogador dentadura, tanto fala até que fura.
            Já o segundo deixou muitas dúvidas e nenhuma saudade. Formado nas categorias de base, simplesmente quis jogar em outro clube. Ignorou o investimento do Palmeiras e foi desfilar num time forjado de liminares na justiça do trabalho. E ainda conseguiu colocar o Palmeiras na condição de réu perante a mídia (se bem que não é preciso muito esforço para isso). É o jogador dente-de-leite para ser extraído, pois não combina com a dentição.
            Vale lembrar que foram Sérgio, Alceu, Diego Silva, Vagner Love e Edmilson os grandes responsáveis pelo retorno do Palmeiras à primeira divisão. Os demais foram coadjuvantes. Todos formados no clube. Agora temos Diego Cavalieri, Thiago Gomes, Francis e Wendel como responsáveis diretos pela recuperação do Verdão no Campeonato Brasileiro, pois os demais jogadores já vinham jogando e não rendendo. Ainda estão à espera David, Willian e Beto.
            Este último inexplicavelmente emprestado ao Ituano quando Tite já ameaçava debutá-lo no time principal. Agora nossa ágil, experta e dinâmica diretoria de futebol corre atrás de um atacante, da série B, pois ficamos sem opções. Apesar deles, voltamos a sorrir.

Nota do autor: Abaixo a dentadura é também um trocadilho ao período de exceção pelo qual o Brasil JÁ PASSOU onde a liberdade de expressão foi proibida. Ainda bem que hoje as coisas são diferentes.

Edman Izipetto, jornalista, palmeirense sem dentadura e livre para escrever.

14/09/2006

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