segunda-feira, 7 de dezembro de 1987

Editorial Zero

            Crônica de um profissional      

Como você pode perceber, venci mais um degrau.
            Venci mesmo, que é muito mais luta que qualquer outra coisa nós estudarmos até este nível. Somos elite, nunca vou esquecer-me disto, mas uma elite muito bem da fechadinha, difícil de penetrar como os mistérios antigos.
            Profissão, agora estou legalizado para fazer o que gosto, e tenho como compromisso primeiro a de modificar esta panelinha de formandos, becas, canudos: meu desejo é que o talento seja a alternativa certa e outras coisas apenas se tornem assessórios. Porque médicos burocratas, advogados introvertidos, economistas econômicos e muitos bacharéis frustrados, apenas porque suas carteiras o permitem?
            Precisamos de pessoas que, antes de tudo, amem aquilo que pretendem exercer. O País não sairá disso que sabemos – e não sabemos – enquanto apenas as contas bancárias classificarem os profissionais em aptos ou não, enquanto apenas os sobrenomes – os mesmos – ocuparem os postos chave. Em 130 milhões de habitantes tem muita gente boa deixando de colocar sua habilidade e, com ela, habilitando esta Nação a crescer de maneira verdadeira.
            Sim, você que está lendo, sou um idealista, uma mistura saudável de poeta e jornalista e, tenho fé, não apenas para encher uma coluna impressa qualquer, mas para carregar em minhas palavras a mística, a aura, as entrelinhas, ou seja lá o que, com aquele compromisso que assumo agora.
            Você, acredite, ajudou-me até aqui, de alguma maneira, e é por isso que lhe dirijo estas palavras: você não deixa de ser responsável!
            Sempre haverá alguma coisa a dizer de alguma coisa e nós, jornalistas, temos isto como matéria prima. Como? Onde? Como? Por quê? Já é uma questão de talento, de sensibilidade, de bagagem cultural mesmo, e esta parte eu invoco meu ego poeta. Para os que acham que tudo isto é um sonho, eu também achava que Faculdade o era, principalmente fazendo o que se gosta, e no entanto...
            Chega de tomar seu tempo. Tenho que ser objetivo desde já ou este diploma não servirá de nada. Mas guarde estas palavras, não as da página que o tempo pode levá-las, mas as que repercutiram no seu interior, e cobre-as de mim se perceber que não as estou seguindo, mesmo porque, tanto os jornalistas como os poetas só existem se houver leitores.
            Até qualquer dia!

Edman Izipetto
Poeta e jornalista
(ou vice-versa)
Dezembro/87

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